As palavras humanas e os conceitos humanos, nunca foram capazes de expressar, ou de dar a compreender ou a viver, o que realmente consiste a Realidade Última da Existência.
Nem as maiores filosofias nem os mais bem arquitetados métodos de pensamento, de racionalização, nem mesmo o estudo dos fatos físicos e das leis que regem o plano material, nada disso.
Nada, nada das ferramentas humanas, jamais conseguiu estabelecer como uma verdade completamente aceita sobre a face do planeta, o que consistia essa Realidade Última da Existência ou a Essência do ser humano.
Muitas correntes se desenvolveram baseadas na existência dessa Essência Última e num certo ponto, todos os seres e todas as consciências, aceitam como fato incontestável, a existência dessa Essência Última.
Pela própria observação dos fatos exteriores ou dos fatos interiores, percebe-se a realidade de uma Essência Última, de algo que subsiste às transformações que sofrem a matéria ou a transformação que sofre a própria Consciência.
Existe um algo que está por detrás de tudo isso.
Ontem, Pio de Pietrelcina nos falou da tensão à Essência Silenciosa. Bom, seria tolice tentar descrever ou conceituar esta Essência Silenciosa, mas com base nessas duas palavrinhas, nós podemos, talvez, nos aproximar do que isso não é.
Com certeza, essa Essência Silenciosa não está em nada do que nós conhecemos a respeito desta Realidade Última, não está em nenhum dos nossos conceitos e conhecimentos a respeito da alma, do Espírito, do Si, da vida após, da vida antes da morte, do céu, do inferno ou paraíso. Essa essência não está em nada disso.
Porque se é a Essência, é um ponto Intocável, um ponto Imutável e, talvez, mesmo por conta disso, dificilmente percebido.
Essa Essência é Silenciosa. Ela, então, não está no barulho da cabeça, não está no barulho das emoções, não está nas palavras, não está nas experiências, não está nas percepções, não está nos entendimentos, não está na compreensão, não está em nada disso.
O que nos resta, então, diante desta Essência Silenciosa? O que é que fica, nas nossas mãos, a respeito desta Essência Silenciosa? Nada.
Atenção! A Essência Silenciosa, então, é aceitar que nada sabemos em relação à essa Essência Silenciosa.
E que essa Essência Silenciosa que, em última instância, Somos, não é nada do que percebemos e nada do que experimentamos, quer seja com os sentidos físicos ou com os sentidos sutis.
Essa aceitação ou essa evidência, porque isso é uma evidência, mesmo com um pouco de lógica, nós chegamos a essa evidência clara, é o primeiro passo da tensão à essa Essência Silenciosa.
Percebam que essa Essência, e a própria palavra essência, já dá um sentido de algo que está dentro, que está escondido.
Quando a gente fala de Essência, a gente se refere, então, a elemento oculto, um elemento interior de algo, que está além do conteúdo e não é bem o conteúdo da forma, o conteúdo da forma ainda não é a Essência.
A Essência é algo que reside por detrás, mesmo do conteúdo. Essa Essência só pode se revelar como um perfume.
A Essência é intocável, a Essência é intangível, mas ela pode se revelar. Você percebe a Essência pelos efeitos e não pela Essência em si mesma.
Então, essa aceitação do nada. Aceitar o nada. Aceitar que não há possibilidade de você, com base nas coisas conhecidas, com base no tudo, chegar a essa Essência, aceitar essa inexistência de uma ponte que liga esses dois estados, aceitar isso é a própria tensão à essa Essência Silenciosa.
Porque aceitar o nada nas coisas, nos seres, em relação a essa Essência Silenciosa, é já derrubar todas as paredes construídas que impediam ou refratavam a expressão, a revelação dessa Essência Silenciosa.
De outro modo, a busca por essa Essência Silenciosa é mais uma quimera, é mais uma ilusão, porque todo o movimento que parte do finito jamais pode levar ao infinito. Isso é óbvio.
Aceitar, então, a característica intrínseca das coisas, ou seja, sua finitude, e não buscar na finitude o infinito, é já um primeiro passo para a tensão à Essência Silenciosa.
Sendo um pouco mais objetivo: se você acredita que, o que você conhece, o que você faz, o que você sabe, pode lhe levar à revelação dessa Essência Silenciosa, está completamente enganado.
Isso é orgulho. Isso é presunção da matéria. Isso é ignorância, por maior que seja o seu conhecimento. Isso é uma ignorância completa do funcionamento das coisas, porque, de novo, é uma estupidez acreditar que o infinito pode nascer do finito, que o passageiro pode lhe levar a conhecer o que é Eterno.
Isso é estupidez. Isso é ignorância do próprio finito. Isso é ignorância do próprio passageiro.
Então, aceitar a finitude de tudo o que você conhece e aceitar que essa Essência Silenciosa reside bem além desse passageiro, embora, paradoxalmente, resida no passageiro, é já uma tensão à Essência Silenciosa.
Porque aí todo o movimento pessoal e individual, em relação a essa Essência Silenciosa se desvanece, toda a tensão construída em direção a uma coisa exterior, porque essa busca pela Essência Silenciosa se baseia na ideia estúpida, também, de que essa Essência está fora e de que você não é essa Essência.
Aceitar o nada, é já aceitar que você é a Essência e que não há nada a fazer, não há nada a buscar, não há nada a compreender.
É engraçado que é, justamente, esse movimento de aceitar o nada, é que permite a expressão dessa Essência Silenciosa.
E é claro, gradualmente, isso vai mudar completamente sua posição dentro da própria experiência.
Toda a rejeição e toda atração se desvanecem.
E Pio usou a palavra tensão. Por que tensão? Todos os movimentos exteriores e finitos existem para lhe fazer crer na infinitude desses movimentos.
Cada prazer, cada experiência, cada dor, cada sofrimento, têm por único objetivo, seduzir a consciência a acreditar que ali reside o Eterno.
Por mais maravilhosa que seja a experiência que você viva, por mais profundo que seja o abalo na consciência que você viva, por mais luminoso que seja a experiência que você viva, seja ela ou nos sentidos físicos ou nos sentidos espirituais, em relação à Essência Silenciosa, isso é nada.
E é uma ilusão acreditar que isso é o objetivo final.
Mesmo a Comunhão, mesmo a Fusão, não são objetivos finais em si mesmos, e se são aceitos como tal, se tornam obstáculos à revelação dessa Essência Silenciosa, porque essa Essência Silenciosa é o nada em relação a tudo o que você conhece.
Essa Essência Silenciosa é o completo desconhecido.
E o que se revela à nossa experiência, são apenas reflexos ou fragmentos de um estado de consciência, um pouco mais próximo desse nada, mas não é esse nada, ainda.
Isso parece muito grande, mas no final das contas, aceitar esse nada, se revela na vida exterior com uma extrema simplicidade.
Porque é aceitar, de uma vez por todas, que nós somos ignorantes em relação a essa Essência Silenciosa.
É aceitar, de uma vez por todas, que não há nada que nós possamos fazer para alcançar essa Essência Silenciosa.
Porque a própria ideia de alcançar isso é uma estupidez, uma vez que essa Essência Silenciosa já está aí, e é apenas uma questão de revelação, de dar-se conta.
E que não é você que faz esse dar-se conta, não é você que faz isso acontecer. Isso não depende de nada do que você faça.
No entanto, aceitar esse nada, aceitar o Silêncio dessa Essência, modifica radicalmente sua posição dentro da vida. A vida não precisa ser modificada, ela se modifica constantemente, mas você como elemento da vida, sua posição dentro desse jogo, muda radicalmente.
Porque, então, essa simplicidade e essa humildade, se instalam completamente, de uma forma gradual, mas é uma instalação completa, e essa Transparência, essa Pobreza, também se manifestam como elementos norteadores de sua ação.
Talvez essas palavras não deem a entender a grandeza da leveza que isso representa na sua experiência aqui dentro.
Como Consciências Multidimensionais, a experiência do Absoluto ou a experiência do Nada, representam um ponto completamente inusitado na carreira dessa Consciência. E por fatores, que não nos cabe julgar ou questionar, essas Consciências Multidimensionais, fazendo a experiência na superfície desse planeta, hoje, chegaram a um momento de viver sua própria dissolução no Nada, e isso representa, para essas Consciências, uma mudança radical no seu desenvolvimento dentro da Dança Cósmica.
Isso passa por tornar-se Nada. Isso passa por ir além da própria identidade espiritual e dissolver essa identidade espiritual no próprio Nada.
Só assim, essa Consciência, antes Multidimensional, e agora esquecida da sua própria Multidimensionalidade, retorna e se estabelece na liberdade completa de expressão e expansão, numa manifestação Divina.
Esse é o ponto crucial, em que as quimeras humanas e a ignorância humana, se mostram às claras aos olhos dos próprios homens, e nesse ponto é preciso aceitar com humildade ser nada aqui.
Essa é a única forma de estabelecimento no Infinito e no Eterno. Não há outro modo.
Crer que o finito pode conduzir à Eternidade, parte de uma completa ignorância, parte, inclusive, de uma negação de ver aquilo que é óbvio e evidente.
Então, as palavras do Pio, quando ele fala de tensão à essa Essência Silenciosa, é realmente você trazer essa evidência constantemente diante dos seus olhos, o nada que você é, diante da aparência inconstante do mundo, e o nada que o mundo é, diante da sua própria aparência inconstante.
Porque todos os elementos exteriores dessa Essência Silenciosa, são elementos que estão flutuando e se modificando constantemente.
Que Eternidade isso pode ter? A única Eternidade que existe é o próprio movimento. O movimento é a única Eternidade.
O que se vive nessa experiência é uma visão iludida de que existe eternidade no elemento parado.
Não existe Eternidade no elemento parado, porque o elemento parado não é eterno. O que é eterno é o movimento constante modificando os próprios elementos.
Aí, você se olha e se pergunta: E o que eu sou? Você é o elemento, o movimento ou você está além de tudo isso?
Porque por detrás desse movimento existe algo imóvel e esse algo imóvel é que permite de certa forma, o próprio movimento.
E a expansão da consciência ou a revelação da consciência, isso que a gente chama de Despertar ou Realização do Ser, passa justamente por esse processo.
A gente pode falar desses processos de várias formas, com várias linguagens. De um ponto de vista mais místico, a gente pode falar da revelação da alma, do Espírito, e o acesso ao Absoluto.
De outro modo, a gente pode falar, também, de você ser um elemento da Dança, desse próprio movimento, e depois você se dar conta de que você é o elemento, e então você não se dá mais conta.
Há uma Dissolução dessa própria identidade, por mais expandida que ela seja, para chegar nesse Imóvel.
A Consciência se revelando como o próprio Ponto Imutável ao redor do qual toda a Dança se manifesta.
E é só nesse ponto que há a verdadeira liberdade, porque esse Ponto Imóvel está dentro de cada elemento e está no próprio movimento que liga todo elemento.
O momento que a gente está vivendo hoje – e isso é uma idiotice de falar, mas enfim – representa esse basculamento crucial da Consciência, fazendo essa experiência limitada, porque a única maneira de passar do limitado ao Ilimitado e para além do próprio Ilimitado, é aceitar ser completamente Nada.
É aceitar o apagamento de Si mesmo. E isso é algo que deve estar diante dos nossos olhos e deve ser o único elemento que ocupe a nossa Consciência, diante de cada ato, diante de cada experiência. É o nada que somos. Isso é a tensão a essência silenciosa.
Transcrição: Isa Patto
Revisão: Silvana Pion
Revisão: Silvana Pion
Tirado daqui:Toque na Unidade