sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Há Dias!


Há dias que fico assim, meio que pra lá e pra cá.

Um certo nonsense com a vida. Não é que a vida fique sem sentido, é que eu mesma fico sem sentido, sem norte, assim jogada que nem uma rolha no mar.

Fico ensimesmada, e acreditem, nem encontro causa ou um sinal de siga em frente ou dobre à direita, ou suba!

Uma estranha sensação de nuvem! Que tanto pode ser tangida quanto dissolver-se pelos ventos.

Ai me lembrei de um texto formidável, que se encaixa como uma luva nesta aventura, sim porque estar assim é uma aventura, se encaixa, perfeitamente, como se alguem me dissesse coisas sobre este estado peculiar de ser e não ser.

A primeira vez que tomei contato com este magnífico Rilke foi aos 24 anos e quem me apresentou foi minha saudosa Duse Nacaratti, esta que me foi uma mestra em tantos momentos de minha vida! Dela ouvi pela primeira vez uma frase que nunca mais esqueci: “Guru, temos uma nostalgia metafísica”. Sorrio hoje, pois ela me chamava de Guru, e quem na verdade sempre foi minha Guru foi ela! (aviso aos navegantes para que não venham a fazer ilações incorretas: Guru foi um apelido ou alcunha que amigas me colocaram quando eu tinha 19 anos e estava na Faculdade, e o apelido “pegou”, não porque eu era esotérica, aliás coisa que não era e não sou. Mas sim, pasmem, porque eu era estudiosa das teorias Marxistas, um delicioso paradoxo não?)

Então aqui posto um trecho desse belíssimo “Cartas a um Jovem Poeta”. Pois consegue falar com muita propriedade sobre este momento que passo:

“...Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas.

Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela.

Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar.

Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida.

Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, — o único existente.

Também, meu prezado Senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de saber se deve criar.

Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o Senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora.

O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.

Mas talvez se dê o caso de, após essa decida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o Senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo).

Mesmo assim, o exame de sua consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.” Rainer Maria Rilke – Cartas a Um Jovem Poeta.

Gratidão!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Evoé*! A folia chega à cidade




Amanhã começa o Carnaval!

O Rio de Janeiro tem a sua festa máxima:
O carnaval!
A folia!
Os blocos de Rua!
As escolas de Samba!
A alegria!

É certo que o carnaval rola pelo Brasil todo: Salvador, Recife, Olinda e outras cidades fervem!Ui! Mas convenhamos né, fala-se em carnaval, lembra-se de imediato do Rio de Janeiro.

O que poucos sabem é de onde veio nosso carnaval.
Conhece o “entrudo”? Pois nosso carnaval teve sua origem exatamente nele, no “entrudo” português?
Na idade média, antes da quaresma, os portugueses comemoravam o período chamado carnaval, com brincadeiras diversas, dependendo da região. Em algumas, enormes bonecos, faziam parte dos folguedos e eram conhecidos como "entrudos". Em outras, as pessoas se divertiam jogando uma nas outras, água, ovos e farinha. Ao acontecer num período anterior à quaresma, tinha, para os portugueses um significado ligado à liberdade.
E num é que pegou por aqui?
Lá pelo século XVI de acordo aos documentos e fotografias, o “entrudo” batia forte nos corações e no físico do povo.
Essa liberdade, essas brincadeiras tomaram fôlego e se transformaram, deliciosamente, no carnaval que hoje conhecemos como carnaval de rua, e sua melhor representatividade são os blocos de rua.
Aliás, devo aqui confessar, que eu sou uma apaixonada pelos blocos. A irreverência carioca se mostra criativa e tem de tudo um pouco.Crianças, adultos, manes, chatos, bêbados, dona de casa, socialités ( meu amor deve estar adorando esta palavra que aportuguesei), solitários, grupos, amantes,mas sobretudo tem alegria, tem música, tem esbaldação, tudo muito democrático. Então ai vai alguns nomes de blocos de rua. Eu adoro os nomes, são deliciosos:
  • Boca Maldita
  • Spanta neném
  • Desliga da justiça
  • É pequeno mas balança
  • Meu Bem Volto Já
  • Simpatia é Quase Amor
  • Banda de Ipanema
  • Que Merda é Essa?
  • Só Caminha
  • Concentra mas Não Sai
  • Imprensa que eu Gamo
  • Suvaco do Cristo
  • Bagunça Meu Coreto
  • Banda Bandida
  • Xupa Mas não Baba
  • Se Não Quiser me dar, me Empresta
  • Vem Ni Mim Que Sou Facinha
  • Não Mexe que Fede
  • Boitatá


Esses são apenas alguns, mas são milhares.
Adoráveis!
Irreverentes!
Alegres!
Loucos!

E o seguinte, eu adoro blocos, me divirto, sambo, canto, tudo com uma bumbum de foca na mão e na boca, de preferência a gostosa Original! Estejam certas que é a melhor cerveja do mundo!

Ai, meu amor, que bom foi no ano passado que você estava a conhecer estas fuzarcas de rua a meu lado!


* Este é o grito que abre o Carnaval no Rio de Janeiro. Brado de evocação a Baco nas orgias. Expressa entusiasmo, exaltação, intensa alegria.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Salve Mãe Iemanjá!


 Rainha dos Mares, eu vos saúdo em reverência.

Conta a lenda que pescadores encontravam-se em alto mar durante dias e noites, sem nenhum sucesso para a pesca.
Saudaram pois Iemanjá e pediram sua interferência.
No mar, ao redor destes pescadores, houve abundância de pesca!

Mãe de todos os mares, Mãe da família e da Abundância hoje é homenageada em  todo o Brasil.

"Yemonjá é o Orixá do Mar. Os orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. 
Yemonjá é a mãe de todos os filhos, mãe de todo mundo. É ela quem sustenta a humanidade e, por isso, os órgãos que a relacionam com a maternidade, ou seja, a sua vulva e seus seios chorosos, são sagrados.
Yemonjá é o espelho do mundo, que reflecte todas as diferenças, pois a mãe é sempre um espelho para o filho, um exemplo de conduta. Ela é a mãe que orienta, que mostra os caminhos, que educa, e sabe, sobre tudo, explorar as potencialidades que estão dentro de cada um, como fez com os guerreiros de Olofin, mostrando o quanto eram bons nos seus ofícios, mas dizendo, ao mesmo tempo, que a guerra maior é a que travamos contra nós mesmos.
Yemonjá foi violentada pelo seu próprio filho, Orugan. Dessa relação incestuosa nasceram diversos Orixás e dos seus seios rasgados jorraram todos os rios do mundo. Yemonjá acabou se desfazer nas suas próprias lágrimas e por se transformar num rio que correu em direcção ao oceano. Portanto, não é por acaso que as lágrimas e o mar tem o mesmo sabor.
Yemonjá é a mãe que não faz distinção dos seus filhos, sejam como forem, tenham ou não saído do seu ventre. Quando humildemente criou, com todo amor e carinho, aquele menino cheio de chagas, fez irromper um grande guerreiro. Yemonjá criou Omulu, o filho e senhor, o rei da terra, o próprio Sol.
Características dos filhos de Yemonjá
São imponentes, majestosos e belos, calmos, sensuais, fecundos, cheios de dignidade e dotados de irresistível fascínio (o canto da sereia). São voluntariosos, fortes, rigorosos, protectores, altivos e, algumas vezes, impetuosos e arrogantes; têm o sentido da hierarquia, fazem-se respeitar e são justos mas formais."

O texto acimao foi retirado de diversas fontes de Candomblé na Net.