terça-feira, 15 de julho de 2008
Prazer Proibido
Somos uma sociedade que vive a rotina de proibir o prazer.
Temos tantos tabus!
Do mais simples aos mais complexos.
É como se o prazer fosse a sentença da condenação.
E vamos a tal ponto neste pavor do prazer que negamo-nos o direito de sentir.
Sentir até a vida mesmo, como fonte de prazer.
Estamos sempre a colocar tantos afazeres a frente do prazer.
Colocamos tantos deveres a frente do sentir.
Ah, mas sentir tristeza pode, sentir frustrações pode, sentir decepções pode.
Já reparou o que você sente ao ver duas pessoas se beijando apaixonadamente?
Eu tenho muitas amigas que criticam, que rejeitam, que acham que os carinhos “mais ousados” devem ser feitos entre quatro paredes!
Por quê?
Por que pelamordeus a crítica aos gestos apaixonados, escancarados?
Talvez, por que causa desconforto?
Afinal, prazer é um sentir proibido e por isto mesmo tem que ser escondido?
Então, vamos caminhando vida afora com medos de expor nossos prazeres.
Bom, nem vou falar das conseqüências disto na cama!
Ou falo?
Então tá, falo!
Já percebeu que muitas mulheres não gostam que lhes toquem?
Fazem sexo, inclusive vestidas!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Vade retro!
Tá, tudo bem, sou politicamente correta, eu aceito tudo, de todos...mas, convenhamos, eu não conseguiria encarar uma dessas!
Gostam de fazer, de tocar, de comandar o prazer da outra..
Mas ser tocada, ser levada a extremo prazer...hum isso fragiliza?
Dá temor? Vai ser descoberta? Deixar-se levar pela outra em prazeres e terras nunca dantes navegadas pode ser perigoso? No jogo do poder pode ficar a descoberto?
Mas tem outras que mesmo sendo tocadas permitem por áreas definidas.
Tipo: “ôpa aqui não!”
Está invadindo a área e o juiz castrador do prazer interrompe a partida, dando um apitaço daqueles!
Por quê?
Por que não se permitir ir alem do já conhecido?
Medo?
Proibido?
Prazer!!!
Ah! Prazer...
Agora vamos ampliar a reflexão?
O prazer sexual é mesmo cheio de proibições!
Minha sábia mulher me lembra que na terceira idade então é que o prazer é proibido, até porque para muitas e muitos o prazer some. Como que ter libido ou mesmo desejos nesta idade seja um paradoxo!
Já pensaram no que vai dar se você por um acaso ver duas pessoas idosas em beijos apaixonados na rua?
Somos uma sociedade proibida ao prazer. Uma sociedade binária!
Prazer?
Pode! Desde que seja entre sexos opostos.
E essa baboseira, esse blá blá bla, a gente escuta sem parar, seja na família, seja nos dogmas religiosos, onde se aproveitam das interpretações e das traduções manipulativas dos livros sagrados para fortalecer o poder. O poder de ditar regras, normas, leis dentro das limitações!
Tudo por que o poder estabelecido diz que o prazer é proibido!
Até a coitada da Eva foi expulsa do paraíso por causa do poder e sentiu vergonha em estar nua!
Essa historinha também tá mal contada né?
O coitadinho,do Adão,é tão influenciável! Por causa da safada da Eva, ele comeu a tal maçã. E olha ele expulso do paraíso! E cheio de não me toques por que estava nu!
Então como sempre a culpada é a mulher! Ai minha Santa Betty Friedan!
Mas isto é assunto pra outro post.
Continuemos...
A gente ouve estas admoestações sobre sexo. Sem falar que ele é sujo, vulgar, coisa de gentinha! E se fizer sexo que seja com o sexo oposto, assim mesmo para procriar.
E a gente sai pela vida aprendendo que sentir prazer sexual é proibido.
E a sociedade proíbe outras formas de relações sexuais que não a famosa heterossexualidade. Leis, permissões, casamentos religiosos... Amar!
Então é assim: isso pode, aquilo não pode e a palavra poder vai sendo, sutilmente, introjetada em nosso inconsciente, sistematicamente!
E nós, nós que sentimos e desejamos diferente do que pode, nos fechamos!
Engavetamo-nos!
Trancamo-nos no armário.
O poder amar quem e como queremos nos é usurpado.
Assim, para finalizar este post em que coloco tópicos à nossa reflexão, termino com um belo chamado, um lindo e pungente grito de guerra.
Afinal somos, antes de tudo, mulheres e por isto mesmo temos que transgredir!
É URGENTE QUE AS PESSOAS SE AMEM
Manuela Amaral
É urgente que as pessoas se amem
sem vergonha e sem tristeza
Que se amem com orgulho
Com a alegria pagã da joie grega
É urgente que as pessoas não se escondam
por detrás das outras pessoas
das ideias das outras pessoas
dos muros espessos do medo
É urgente que as pessoas se amem
É urgente partilhar o pão e o corpo
com a claridade da terra molhada
nas manhãs de sol
É urgente assumir a verdade
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24 comentários:
Ops,valeu.Temos que incomodar mesmo,nada de se castrar como muita gente gostaria.Quanto ao sexo puxei minha adorada mãe: enquanto eu respirar...
Concordo e assino embaixo!
Não consigo entender pq o prazer é tão proibido e pq tem q ser fechado dentro de um armário...
É URGENTE QUE AS PESSOAS SE AMEM! É NECESSÁRIO QUE AS PESSOAS SE AMEM!!!
Bjos
Nossa,
Como vc escreve bem...
Adorei seu texto.
É isso aí mesmo, as pessoas estão como robos, controladas pelo o poder do sim ou do não!
Sempre que eu poder, vou dar uma olhadinha nos seus textos.
Abços
A subjugação de um ser humano por outro sempre foi feita à base de duas coisas: força bruta e intimidação psicológica. No fundo, pelo controle à base da imposição do medo.
Foi assim, também, que a Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR - subjugou as gentes, com essa historieta ridícula - entre outras - do Adão e da Eva.
Quem quer dominar encara com muito maus olhos qualquer tipo de liberdade e isso é uma das coisas que o prazer dá: liberdade.
Por outro lado, a mulher sendo um ser tão especial, belo, tentador e atraente também se apresentou como uma ameaça ao poder (sobre as consciências) instituido, portanto houve que vandalizá-la descredibilizá-la, enxovalá-la descrevendo-a e tratando-a como um ser inferior.
E, já dizia alguém com muita sabedoria: uma mentira muitas vezes repetida acaba por se transformar numa verdade inquestionável.
Parabéns, Andarilha, por questionar essa "verdade", de uma forma tão lúcida e frontal.
Abraço.
Márcia Paula
Você sempre a dizer(estou parando de gerundiar hehehehehe) poucas e boas!
Assim como você, querida, eu disse a minha mulher:
Já nasci orgástica!
Beijos
Kaks, sim é preciso mesmo!
Amar de forma escancarada e liberta!
Ufa!
Heydinha, meus escritos são meu simples reflexo. Procuro ser coerente com meu ser.Com minhas idéias e com meus desejos. Se isto sai bem, fico contente. Apareça sempre sim, é um prazer!!!!!
Meu amor,
Mais um excelente post! A forma como colocas à reflexão de quem te lê, a questão do prazer em todas as suas nuances, é notável!
Eu mesma, quando vejo um casal de apaixonados a "comerem-se" em público, tenho tendência a pensar, não a dizer pois não chego a tanto: get a room!
Porque o faço? Se calhar, apesar de ser uma mulher que ama de forma livre, despudorada e sem tabus, não sou tão liberta assim ... mas prometo reflectir sobre o assunto e, quiçá, mudar a minha forma de pensar.
Beijo-te
Citadina
A ICAR tem uma trajetória de opressão, de poder, de assassinatos. É uma organização que exerce seu poder de forma tirânica.Me enoja tanta manipulação das massas sendo aceita e vista com tamanha tolerância! É uma organização que execra o feminino: Mulher só sendo virgem ou prostituta arrependida. Argh!
O poder da mulher está a ser redimensionado.Há milhares de anos que somos vilipendiadas.Não mais! Não mais!
Porem temos que tomar posse de nossa força e de nosso poder! É urgente que façamos deles a nossa realidade. E que tenhamos consciência de que nossa mente foi e é, sitematicamente,subjugada. A tal ponto que muitas, mas ainda tantas, desqualificam o ser mulher.
Beijos e que nós que temos lucidez e questionamos o estabelecido possamos juntar nosso grito de liberdade e prazer!
Duca, amor...
Você é minha inspiração!
E mais me instiga sempre a ser livre!
Sim, todas nós temos o longo aprendizado de uma sociedade hipócrita, patriarcal e que se nega ao prazer. Somos produto dela, amor!
Mas sabe o que mais? Ao refletirmos, temos o direito inalienável de nos rebelar! De dizer não!
E, minha querida...nós fazemos exatamente isto!
Como já disse, eu e você nascemos orgásticas!
É isso aí, Hedy...
Concordo em gênero, número e grau... e como dizia o Renato Russo: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã..."
Beijocassss...
E parabéns pelo lindo post...
Amiga...
Maravilhoso...
Palavras simples para tornar simples o que muita gente tem mania de complicar...
beijosssss
Desregulada....rs rs rs rs adorei seu nick! Apropriado!!!
A complicação, sempre é por que assim, complicando, as pessoas disfarçam através da intelectualização suas limitações.
Insanamente lúcida, este paradoxo é divertido. E que não haja amanhã, porque hoje deitei e rolei!
Querida Andarilha, como gostei do teu post pela mensagem que transmite!
Há no entanto um aspecto que merece ser considerado e sobre o qual vale a pena reflectir. Há muitos homens e mulheres para quem o sentido do interdito relacionado com o sexo está restrito à esposa/marido. Se se tratar de um(a) prostituta/amante, o sentido do prazer é subvertido, ou seja, é proibido fazer tudo com quem posso, devo e me quer, mas não o é com quem não posso/devo. É uma forma retorcida de afirmar a liberdade de fazer algo de "proibido" de forma "condenável" como forma de trangredir a distorção que a própria sociedade imprime ao conceito de prazer num casal. Ou seja, escondem o que é de facto proibido, porque o que é permitido não o escondem, não há infracções nele. Estou obviamente a falar de relações "não abertas". Nunca ouviste dizer que "o fruto proibido é sempre o mais apetecido", ou "a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha"?
Infelizmente muitas pessoas só dormem vestidas, só não gostam de ser tocadas ou só têm sentidos proibidos no corpo com o próprio parceiro, não com amantes/prostitutas(os). É uma tristeza, uma frustração, mas é assim.
Como explicar isto? Achas que é a ICAR a responsável? A sociedade? Assim é sempre possível desresponsabilizar quem nestes argumentos se baseia...
Não queres fazer um post a desenvolver este tema? :-)
Beijos
Esqueci-me de mencionar acima que para muitas pessoas, a própria relação de casal funciona como uma subjugação de uma parte pela outra, como um jogo de poder. Nessas relações, o fazer amor e ter prazer sexual com o "ser amado" é encarado assim como um "dever conjugal". E a forma de se libertarem desse jogo de poder, desse "dever", e de transgredirem o que "é proibido", é não fazendo amor em casa e "pularem a cerca" como vocês dizem. Aí sim, com uma satisfação mal contida, dão a outrém o que negam a quem os ama e a quem dizem amar também, ou pelo menos com quem partilham o seu dia-a-dia.
Para estas pessoas é muito mais excitante, porque libertador e transgressor, andar a fazer amor por fora com todo o prazer, às escondidas, do que reinventar mil formas de amar com o/a própria parceiro(a).
Posso dizer-te que conheci dezenas de casos de homens e mulheres nestas circunstâncias. E não consigo nesses casos responsabilizar mais ninguém do elas próprias.
Querida Cosmopolita,
Eu fico sem saber a qual tema você se refere. Pois seu comentário é tão bom e tão amplo, envereda por tantos temas.
O da "coisificação" da mulher, o da hipocrisia nos relacionamentos, o da ICAR e seu domínio tirânico a chicotear com o pecado, e o que mais me seduz:
A desresponsabilização ao transferir a outrem ou mesmo à sociedade o comportamento castrador de si mesma e/ou da outra pessoa.
Hummm....gostei deste. Mas a gente não pode tirar do foco a premissa de que, o comportamento adquirido o é frente ao nosso entorno formador/deformador. Até mesmo porque isto, na maioria das vezes se dá no nível do inconsciente.
Mas gostei da idéia vou refletir e... tá aceito!
Beijos, provocadora Cosmopolita (rs rs rs rs)
Para o seu PS, cara Cosmopolita.
Esta é uma situação que me intriga, sempre.
Acho que nisto, vai aí uma boa dose de exercer o poder sim. A esta eu dou, àquela não dou. Aqui permito-me, àquela deixo a desejar. Tem um pouco de punição, de hipocrisia, de vingança. E de domínio.
E acresça-se a isto o que vc, muito bem colocou, a necessidade de transgredir às avessas. A rebeldia sem causa compreendida.
Ao que é permitido (ao menos pró-forma)a este é negado. E a satisfação, em permitir-se viver o prazer sexual, a conquista, o domínio, fora da relação. Como a estabelecer uma auto-afirmação, uma necessidade de impor, de se afirmar mesmo como transgressora.
Para depois pacificar sua consciência praticando benesses ou o que for concedido pela prática social, religiosa etc.
Acho um tema maravilhoso mesmo.
Beijos
Elecas! Juntam-se as duas à esquina e não é a tocar a consertina!
Caramba, quando duas mulheres deste calibre se juntam a pensar sobre questões tão profundas e fracturantes, muita gentinha começa logo a ouvir sirenes do tipo: "Perigo! Perigo!"
rsrsrsrsrs
Duca, minha querida
Nesta esquina, somos eu, você e as amigas a conversar assuntos que esquentam as orelhas.
Querida amiga!
Tem uma brincadeirinha entre blogs que anda rolando pela internet.
Tá lá no QG pra vc!!
Óbvio que deixei para vc passar para seu amor!!
bjos
primeira vez q visito teu blog, e adorei.
só pelo fato d aceitarmos q amamos mulheres e é com elas q seremos felizes já é um grande passo.
daí a externar o amor é um longo cminho, q percorremos com dor e prazer!
adorei!
Lucy in the sky, seja bem vinda e volte sempre, continua sendo um prazer!!!!
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